seu gabinete, como num coração, palpitasse toda a Vida Social da Europa.
E a cada um destes esforços da elegância, do humanitarismo, da sociabilidade, e da inteligência indagadora, voltava para mim, de braços alegres, com um grito vitorioso: — «Vês tu, Zé Fernandes? Uma maçada!» — Arrebatava então o seu Ecclesiastes, o seu Schopenhauer, e, estendido no sofá, saboreava voluptuosamente a concordância da Doutrina e da Experiência. Possuia uma Fé — o Pessimismo; era um apóstolo rico e esforçado; e tudo tentava, com sumptuosidade, para provar a verdade da sua Fé! Muito gozou nesse ano o meu desgraçado Príncipe!
No começo do Inverno, porém, notei com inquietação que Jacinto já não folheava o Ecclesiastes, desleixava Schopenhauer. Nem festas, nem Teosofismos, nem os seus Hospícios, nem os fios do Times, pareciam interessar agora o meu amigo, mesmo como demonstrações gloriosas da sua Crença. E a sua abominável função de novo se limitou a bocejar, a passar os dedos moles sobre a face pendida, palpando a caveira. Incessantemente aludia à morte como a uma libertação. Uma tarde mesmo, no melancólico crepúsculo da Biblioteca, antes de refulgirem as luzes, consideravelmente me aterrou, falando num tom regelado de mortes rápidas, sem dor, pelo choque duma vasta pilha eléctrica ou pela violência compassiva do ácido cianídrico. Diabo! O Pessimismo, que aparecera na Inteligência do meu Príncipe como um conceito elegante — atacara bruscamente a Vontade! Todo o seu movimento então foi o dum boi