A sineta tilintou.
— Oh Pimentinha, espera, homem, não deixes largar o comboio!... As nossas bagagens, homem!
E, aflito, empurrei o enorme chefe para o furgão de carga, a pesquisar, descortinar as nossas vinte e três malas! Apenas encontrámos barris, cestos de vime, latas de azeite, um baú amarrado com cordas... Jacinto mordia os beiços, lívido. E o Pimentinha, esgazeado:
— Oh filhos, eu não posso atrasar o comboio!...
A sineta repicou... E com um belo fumo claro o comboio desapareceu por detrás das fragas altas. Tudo em torno pareceu mais calado e deserto. Ali ficávamos pois baldeados, perdidos na serra, sem Grilo, sem procurador, sem caseiro, sem cavalos, sem malas! Eu conservava o paletó alvadio, de onde surdia o Jornal do Comércio. Jacinto, uma bengala. Eram todos os nossos bens!
O Pimentão arregalava para nós os olhinhos papudos e compadecidos. Contei então àquele amigo o atarantado trasfego em Medina sob a borrasca, o Grilo desgarrado, encalhado com as vinte e três malas, ou rolando talvez para Madrid sem nos deixar um lenço...
— Eu não tenho um lenço!... Tenho este Jornal do Comércio. É toda a minha roupa branca.
— Grande arrelia, caramba! — murmurava o Pimenta, impressionado. — E agora?
— Agora — exclamei, — é trepar para a quinta, à pata... A não ser que se arranjassem aí uns burros.
Então o carregador lembrou que perto, no casal da Giesta, ainda pertencente a Tormes, o caseiro, seu compadre, tinha uma boa égua e um