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A CIDADE E AS SERRAS

Não faltam por aí terras agradáveis... Em nove meses tens uma planta feita. E quanto mais tenrinhas, e mais pequeninas, mais essas plantas encantam.

Ele murmurou, cruzando as mãos sobre os joelhos:

— Tudo leva tanto tempo!...

E à borda do tanque nos quedámos, calados, na fresca doçura do anoitecer, entre o cheiro avivado das madressilvas do muro, olhando o crescente da Lua, que surdia dos telhados de Tormes.

E decerto esta pressa de se tornar entre a Natureza não mais um sonhador, mas um criador, arremessou vivamente o seu interesse para os gados! Repetidamente, nos nossos passeios através da quinta, ele lhe notava a solidão.

— Faltam aqui animais, Zé Fernandes!

Imaginava eu, que ele apetecia em Tormes o ornato elegante de veados e pavões. Mas um domingo, costeando o largo campo da Ribeirinha, sempre escasso de águas, agora mais ressequido por Verão de tanta secura, o meu Príncipe parou a considérar os três carneiros do caseiro, que retouçavam com penúria uma relvagem pobre.

E, de repente, como magoado:

— Justamente! Aqui está o espaço para um belo prado, um imenso prado, muito verde, muito farto, com rebanhos de carneiros brancos, gordíssimos como bolas de algodão pousadas na relva!... Era lindo, hem? É fácil, não é verdade, Zé Fernandes?

— Sim... Trazes a água para o prado. Águas não faltam, na serra.

E o meu Príncipe, encadeando logo nesta inspirada

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