é que se vai saber quem é aqui o fino amador da Natureza, com esta chuva pegada, com vendaval, com a serra toda a escorrer!
O meu Príncipe caminhou para a janela com as mãos nas algibeiras:
— Com efeito! Está carregado. Já mandei abrir uma das malas de Paris e tirar um casacão impermeável... Não importa! Fica o arvoredo mais verde. E é bom que eu conheça Tormes nos seus hábitos de Inverno.
Mas como o Melchior lhe afiançara que a «chuvinha só viria para a tarde», Jacinto decidiu ir antes de almoço à Corujeira, onde o Silvério o esperava para decidirem da sorte de uns castanheiros, muito velhos, muito pitorescos, inteiramente interessantes, mas já roídos, e ameaçando desabar. E, confiando nas previsões do Melchior, partimos sem que Jacinto se vestisse à prova de água. Não andáramos porém meio caminho, quando, depois dum arrepio nas árvores, um negrume carregou, e, bruscamente, desabou sobre nós uma grossa chuva oblíqua, vergastada pelo vento, que nos deixou estonteados f agarrando os chapéus, enrodilhados na borrasca. Chamados por uma grande voz, que se esganiçava no vento, avistámos num campo mais alto, à beira dum alpendre, o Silvério, debaixo dum guarda-chuva vermelho, que acenava, nos indicava o trilho mais curto para aquele abrigo. E para lá rompemos, com a chuva a escorrer na cara, patinhando na lama, contorcidos, cambaleantes, atordoados no vendaval, que num instante alagara os campos, inchara os ribeiros, esboroava a terra dos socalcos, lançara num