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A CIDADE E AS SERRAS

Encolhera os ombros, parado no caminho, no espanto daquelas extravagâncias. Eu tive de o apressar, impaciente:

— Vamos conversando e andando! É meio-dia! Estou com uma fome de lobo!

Caminhámos, com o Silvério no meio, pensativo, a fronte enrugada sob a vasta aba do chapéu, a barba imensa espalhada pelo peito, e a barraca exorbitante do guarda-chuva vermelho enrolada debaixo do braço. E Jacinto, puxando nervosamente o bigode, arriscava outras ideias benfazejas, cautelosamente, no seu indominável medo do Silvério:

— E as casas também... Aquela casa é um covil!... Gostava de abrigar melhor aquela pobre gente... E naturalmente, as dos outros caseiros são pocilgas iguais... Era necessário uma reforma! Construir casas novas a todos os rendeiros da quinta...

— A todos?... — O Silvério gaguejava, — emudeceu.

E Jacinto balbuciava aterrado:

— A todos... Enfim, quero dizer... Quantos serão eles?

Silvério atirou um gesto enorme:

— São vinte e coisas... Vinte e três! se bem lembro. Upa! Upa! Vinte e sete...

Então Jacinto emudeceu também, como reconhecendo a vastidão do número. Mas desejou saber, por quanto ficaria cada casa!... Oh! uma casa simples, mas limpa, confortável, como a que tinha a irmã do Melchior, ao pé do lagar. Silvério estacou de novo. Uma casa como a da Ermelinda? Queria Sua Ex.a saber? E alijou a

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