andavam a consertar a trave do rio. Era um instante, e estava em seguida às ordens de S. Ex.a.
Meteu a corta-mato, saltando um cancelo. E nós seguimos, com passos que eram ligeiros, pela hora do almoço que se retardara, pelo azul alegre que reaparecia, e por toda aquela justiça feita à pobreza da serra.
— Não perdeste hoje o teu dia, Jacinto — disse eu, batendo, com uma ternura que não disfarcei, no ombro do meu amigo.
— Que miséria, Zé Fernandes! Eu nem sonhava... Haver por aí, à vista da minha casa, outras casas, onde crianças têm fome! É horrível...
Estávamos entrando na alameda. Um raio de Sol, saindo de entre duas grossas, algodoadas nuvens, passou sobre uma esquina do casarão, ao funde, uma viva tira de ouro. O clarim dos galos soava claro e alto. E um doce vento, que se erguera, punha nas folhas lavadas e luzidias um frémito alegre e doce.
— Sabes o que eu estava pensando, Jacinto?... Que te aconteceu aquela lenda de Santo Ambrósio... Não, não era Santo Ambrósio... Nem me lembra o santo... Nem era ainda santo... apenas um cavaleiro pecador, que se enamorara duma mulher, pusera toda a sua alma nessa mulher, só por a avistar a distância na rua. Depois, uma tarde que a seguia, enlevado, ela entrou num portal de igreja, e aí, de repente, ergueu o véu, entreabriu o vestido, e mostrou ao pobre cavaleiro o seio roído por uma chaga! Tu, também andavas namorado da serra, sem a conhecer, só pela sua beleza de Verão. E a serra, hoje, zás!