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A CIDADE E AS SERRAS

umas que se consertavam, outras mais velhas, que se derrubavam para se reconstruírem com uma largueza cómoda. Pelos caminhos constantemente chiavam carros, carregados de pedra, ou de madeiras cortadas nos pinheirais.

Na taberna do Pedro, à entrada da freguesia, ia um desusado movimento, de pedreiros e carpinteiros contratados para as obras; — e o Pedro, com as mangas arregaçadas, por trás do balcão, não cessava de encher os decilitros com uma vasta infusa.

Jacinto, que tinha agora dois cavalos, todas as manhãs cedo percorria as obras, com amor. Eu, inquieto, sentia outra vez, latejar e irromper no meu Príncipe o seu velho, maníaco furor de acumular Civilização! O plano primitivo das obras era incessantemente alargado, aperfeiçoado. Nas janelas, que deviam ter apenas portadas, segundo o secular costume da serra, decidira pôr vidraças, apesar do mestre-de-obras lhe dizer honradamente, que depois de habitadas um mês, não haveria casa com um só vidro. Para substituir as traves clássicas queria estucar os tectos; — e eu via bem claramente que ele se continha, se retesava dentro do Bom senso, para não dotar cada casa com campainhas eléctricas. Nem sequer me espantei, quando ele uma manhã me declarou que a porcaria da gente do campo provinha deles não terem onde comodamente se lavar, pelo que andava pensando em dotar cada casa com uma banheira. Descíamos nesse momento, com os cavalos à rédea, por uma azinhaga precipitada e escabrosa; um vento leve ramalhava nas árvores, um regato saltava ruidosamente entre as pedras.

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