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A CIDADE E AS SERRAS


Dr. Alípio, de preto, esplêndida como uma Vénus Rústica... E foi na sala, como se realmente entrasse um Príncipe, desses países do Norte onde os Príncipes são magníficos, muito distantes dos homens, e aterram as gentes. Um silêncio, como se o tecto de carvalho descesse, nos esmagava: e todos os olhos se enristaram contra o meu desgraçado Jacinto, como numa caçada hindu, quando à orla da floresta surge o Tigre Real. Debalde, — nas confusas, apressadas apresentações, com que eu o levava através da sala, — os seus apertos de mão, os sorrisos, o vago murmúrio, «da sua honra, do seu prazer», foram repassados de simpatia, de simplicidade. Todos os cavalheiros permaneciam reservados, observando o Príncipe, que subira à serra; e as senhoras mais se aconchegavam à sombra da tia Vicência, como ovelhas à volta do pastor, quando na altura assoma o lobo. Eu, já inquieto, lancei o D. Teotónio, o mais ornamental daqueles cavalheiros.

— O Sr. D. Teotónio foi muito amável em vir, Jacinto. Raras vezes sai da sua linda casa da Abrujeira.

O digno D. Teotónio sorriu, cofiando os espessos bigodes brancos, de velho brigadeiro:

— V. Ex.a chegou directamente de Viena?

— Não! — Jacinto viera directamente de Paris, com o amigo Zé Fernandes. D. Teotónio insistiu:

— Mas certamente visita muitas vezes Viena...

Jacinto sorria surpreendido:

— Viena, porquê?... Não. Há mais de quinze anos que não vou a Viena.

O fidalgo murmurou um lento ah! e ficou

calado, de pálpebras baixas, como revolvendo análises

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