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A CIDADE E AS SERRAS

de pedra, toda enrodilhada de jasmineiros amarelos. A porta envidraçada estava aberta: e subimos pela escadaria de pedra, no imenso silêncio em que toda a Flor da Malva repousava, ate à antecâmara, de altos tectos apainelados, com longos bancos de pau, onde desmaiavam na sua velha pintura as complicadas armas dos Cerqueiras. Empurrei a porta duma outra sala, que tinha as janelas da varanda abertas, cada uma com a gaiola dum canário.

— É curioso! — exclamou Jacinto. — Parece o meu Presépio... E as minhas cadeiras.

E com efeito. Sobre uma cómoda antiga, com bronzes antigos, pousava um presépio, semelnante ao da livraria de Jacinto. E as cadeiras de couro laviado tinham, como as que ele descobrira no sótão, umas armas sob um chapéu de Cardeal.

— Oh senhores ! — exclamei. — Não haverá um criado?

Bati as mãos, fortemente. E o mesmo doce silêncio permaneceu, muito largo, todo luminoso e arejado pelo macio ar da quinta, apenas cortado pelo saltitar dos canários nos poleiros das gaiolas.

— É o palácio da Bela adormecida no bosque! — murmurou Jacinto, quase indignado. — Dá um berro!

— Não, caramba! Vou lá dentro!

Mas, à porta, que de repente se abriu, apareceu minha prima Joaninha, corada do passeio e do vivo ar, com um vestido claro um pouco aberto no pescoço, que fundia mais docemente, numa larga claridade, o esplendor branco da sua pele, e o louro ondeado dos seus belos cabelos, — lindamente

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