— Já não é tão divertido, perdeu o brilho!...
Ele acudia, timidamente:
— Não, é agradável, não há nada mais agradável; mas...
E acusava a friagem das tardes ou despotismo dos seus afazeres. Recolhíamos então ao 202, onde, com efeito, em breve embrulhado no seu roupão branco, diante da mesa de cristal, entre a legião das escovas, com toda a electricidade refulgindo, o meu Príncipe se começava a adornar para o serviço social da noite.
E foi justamente numa dessas noites (um sábado) que nós passámos, naquele quarto tão civilizado e protegido, por um desses brutos e revoltos terrores como só os produz a ferocidade dos Elementos. Já tarde, à pressa (jantávamos com Marizac no Clube para o acompanhar depois ao Lohengrin na Ópera) Jacinto arrochava o nó da gravata branca — quando no lavatório, ou porque se rompesse o tubo, ou se dessoldasse a torneira, o jacto de água a ferver rebentou furiosamente, fumegando e silvando. Uma névoa densa de vapor quente abafou as luzes — e, perdidos nela, sentíamos, por entre os gritos do escudeiro e do Grilo, o jorro devastador batendo os muros, esparrinhando uma chuva que escaldava. Sob os pés o tapete ensopado era uma lama ardente. E como se todas as forças da natureza, submetidas ao serviço de Jacinto, se agitassem, animadas por aquela rebelião da água — ouvimos roncos surdos no interior das paredes, e pelos fios dos lumes eléctricos sulcaram faíscas ameaçadoras! Eu fugira para o corredor, onde se alargava a névoa grossa. Por todo o 202 ia um tumulto de