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A CIDADE E AS SERRAS

duma violência! No derradeiro sermão pregara sobre o amor, a fragilidade dos amores mundanos! E tivera coisas duma inspiração, duma brutalidade! Depois que gesto, um gesto terrível que esmagava, em que se lhe arregaçava toda a manga, mostrando o braço nu, um braço soberbo, muito branco, muito forte!

O seu sorriso permanecia claro sob o olhar que negrejara dentro do véu negro. E Jacinto, rindo:

— Um bom braço de director espiritual, hem? Para vergar, espancar almas...

— Ela acudiu:

— Não! infelizmente o Père Granon não confessa!

E de repente reconsiderou — aceitava um biscouto, um cálice de Tokai. Era necessário um cordial para afrontar as emoções do Père Granon! Ambos nos precipitáramos, um arrebatando a garrafa, outro oferecendo o prato de bombons. Franziu o véu para os olhos, chupou à pressa um bolo que ensopara no Tokai. E como Jacinto, reparando casualmente no chapéu que ela trazia, se curvara com curiosidade, impressionado, Madame de Oriol apagou o sorriso, toda séria, ante uma coisa séria:

— Elegante, não é verdade?... É uma criação inteiramente nova de Madame Vial. Muito respeitoso, e muito sugestivo, agora na Quaresma.

O seu olhar, que me envolvera, também me convidava a admirar. Aproximei o meu focinho de homem das serras para contemplar essa criação suprema do luxo de Quaresma. E era maravilhoso! Sobre o veludo, na sombra das plumas

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