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A CIDADE E AS SERRAS

do ribeiro respondiam os cães do João Saranda. Como me encontrei descendo por uma quelha, sob as ramadas, com o meu varapau ao ombro? E sentia, entre a seda das cortinas, num fino ar macio, o cheiro das pinhas estalando nas lareiras, o calor dos currais através das sebes altas, e o sussurro dormente das levadas...

Despertei a um brado que não saía nem dos eidos, nem das sombras. Era o Grão-Duque que se erguera, encolhia furiosamente os ombros:

— Não se ouve nada!... Só guinchos! E um zumbido! Que maçada !... Pois é uma beleza, a cançoneta:

 

Oh les casquettes,
Oh les casque-e-e-tes!...

 

Todos largaram os fios — proclamavam a Gilberte deliciosa. E o mordomo bendito, abrindo largamente os dois batentes, anunciou:

Monseigneur est servi!

Na mesa, que pelo esplendor das orquídeas mereceu os louvores ruidosos de S. Alteza, fiquei entre o etéreo poeta Dornan e aquele moço de penugem loura que balouçava como uma espiga ao vento. Depois de desdobrar o guardanapo, de o acomodar regaladamente sobre os joelhos, Dornan desenvencilhou da corrente do relógio uma enorme luneta para percorrer o menu — que aprovou. E inclinando para mim a sua face de Apóstolo obeso:

— Este Porto de 1834, aqui em casa de Jacinto, deve ser autêntico... Hem?

Assegurei ao Mestre dos Ritmos que o «Porto»

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