poço escuro do elevador, onde mergulhara uma vela que lhe avermelhava mais a face esbraseada. Espreitei, por sobre o seu ombro real. Em baixo, na treva, sobre uma larga prancha, o peixe precioso alvejava, deitado na travessa, ainda fumegando, entre rodelas de limão. Jacinto, branco como a gravata, torturava desesperadamente a mola complicada do ascensor. Depois foi o Grão-Duque que, com os pulsos cabeludos, atirou um empuxão tremendo aos cabos em que ele rolava. Debalde! O aparelho enrijara numa inércia de bronze eterno.
Sedas roçagaram à entrada da copa. Era Madame de Oriol, e atrás Madame Verghane, com os olhos a faiscar, na curiosidade daquele lance em que o Príncipe soltara tanta paixão. Marizac, nosso íntimo, surgiu também, risonho, propondo uma descida ao poço com escadas. Depois foi o Psicólogo, que se abeirou, psicologou, atribuindo intenções sagazes ao peixe que assim se recusava. E a cada um o Grão-Duque, escarlate, mostrava com dedo trágico, no fundo da cova, o seu peixe! Todos afundavam a face, murmuravam: «lá está!» Todelle, na sua precipitação, quase se despenhou. O periquito descendente de Coligny batia as asas, ganindo: — «Que cheiro ele deita, que delícia!» Na copa atulhada os decotes das senhoras roçavam a farda dos lacaios. O velho caiado de pó de arroz meteu o pé num balde de gelo, com um berro ferino. E o Historiador dos Duques de Anjou movia por cima de todos o seu nariz bicudo e triste.
De repente, Todelle teve uma ideia!
É muito simples... É pescar o peixe!