apenas se sente um espírito naturalmente limitado, que desde novo se entranhou no doutrinarismo da escola de Genebra, e que depois, caído em solidão e doença, só pelos livros conheceu a Vida, os Homens e o Mundo. Li em todo o caso essas cartas—como leio todas as coleções de Correspondências, que, não sendo didaticamente preparadas para o público (como as de Plínio), constituem um estudo excelente de psicologia e de história. Eis aí uma maneira de perpetuar as ideias dum homem que eu afoitamente aprovo—publicar-lhe a correspondência! Há desde logo esta imensa vantagem:—que o valor das ideias (e portanto a escolha das que devem ficar), não é decidido por aquele que as concebeu, mas por um grupo de amigos e de críticos, tanto mais livres e mais exigentes no seu julgamento, quanto estão julgando um morto que só desejam mostrar ao Mundo pelos seus lados superiores e luminosos. Além disso uma Correspondência revela melhor que uma obra a individualidade, o homem; e isto é inestimável, para aqueles que na Terra valeram mais pelo caráter do que pelo talento. Acresce ainda que, se uma obra nem sempre aumenta o pecúlio do saber humano, uma Correspondência, reproduzindo necessariamente os costumes, os modos de sentir, os gostos, o pensar contemporâneo e ambiente, enriquece sempre o tesouro da documentação histórica. Temos depois que as cartas dum homem, sendo o produto quente e vibrante da sua vida, contém mais ensino que a sua filosofia—
Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/131
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