a obra, cumpria sobretudo destacar as páginas que, com mais saliência, revelassem a personalidade—o conjunto de ideias, gostos, modos, em que tangivelmente se sente e se palpa o homem. E por isso, nestes pesados maços das cartas de Fradique, escolho apenas algumas, soltas, de entre as que mostram traços de caráter e relances da existência ativa; de entre as que deixam entrever algum instrutivo episódio da sua vida de coração; de entre as que, revolvendo noções gerais sobre a literatura, a arte, a sociedade e os costumes, caracterizam o feitio do seu pensamento; e ainda, pelo interesse especial que as realça, de entre as que se referem a coisas de Portugal, como as suas impressões de Lisboa», transcritas com tão maliciosa realidade para regalo de Madame de Jouarre.
Inútil seria decerto, nestas laudas fragmentais, procurar a suma do alto e livre Pensar de Fradique, ou do seu Saber tão fundo e tão certo. A correspondência de Fradique Mendes, como diz finalmente Alceste—c’est son génie qui mousse. Nela, com efeito, vemos apenas a espuma radiante e efêmera que fervia e transbordava, enquanto em baixo jazia o vinho rico e substancial, que não foi nunca distribuído, nem serviu às almas sedentas. Mas, assim ligeira e dispersa, ela mostra todavia, em excelente relevo, a imagem deste homem tão superiormente interessante em todas as suas manifestações de pensamento, de paixão, de sociabilidade e de ação.