Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/157

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o—a uma religião que consista apenas numa Moral apoiada numa Fé—é ter da Religião, da sua essência e do seu objeto, uma sonhadora ideia de sonhador teimoso em sonhos!

Meu bom amigo, uma Religião a que se elimine o Ritual desaparece—porque as Religiões para os homens (com excepção dos raros Metafísicos, Moralistas e Místicos) não passa dum conjunto de Ritos, através dos quais cada povo procura estabelecer uma comunicação íntima com o seu Deus e obter dele favores. Este, só este, tem sido o fim de todos os cultos, desde o mais primitivo, do culto de Indra, até ao culto recente do coração de Maria, que tanto o escandaliza na sua paróquia—oh incorrigível beato do idealismo! Se V. o quer verificar historicamente, deixe Viana do Castelo, tome um bordão, e suba comigo por essa antiguidade fora até um sítio bem cultivado e bem regado que fica entre o rio Indo, as escarpas do Himalaia, e as areias dum grande deserto . Estamos aqui em Septa-Sindhou, no país das Sete Águas, no Vale Feliz, na terra dos Árias. No primeiro povoado em que pararmos, V. vê, sobre um outeiro, um altar de pedra coberto de musgo fresco: em cima brilha palidamente um fogo lento: e em torno perpassam homens, vestidos de linho, com os longos cabelos presos por um aro de ouro fino. São padres, meu amigo! São os primeiros capelães da Humanidade,—e cada um deles está, por esta quente alvorada de Maio, celebrando um rito da missa Ariana.