que V. conhece—o «formoso Chambray». Encontro Chambray no fundo duma poltrona, derreado e radiante. Pergunto a Chambray como lhe vai a Vida, que opinião tem nesse dia da Vida. Chambray declara a Vida uma delícia. E, imediatamente, sem se conter, faz a confidência que lhe bailava impacientemente no sorriso e no olho umedecido.
Fora a Versalhes, com tenção de visitar os Fouquiers. No mesmo compartimento com ele ia uma mulher, une grande et belle femme. Corpo soberbo de Diana num vestido colante do Redfern. Cabelos apartados ao meio, grossos e apaixonados, ondeando sobre a testa curta. Olhos graves. Dois solitários nas orelhas. Ser substancial, sólido, sem chumaços e sem blagues, bem alimentado, envolto em consideração, superiormente instalado na vida.
E, no meio desta respeitabilidade física e social, um jeito guloso de molhar os beiços a cada instante, vivamente, com a ponta da língua... Chambray pensa consigo:—«burguesa, trinta anos, sessenta mil francos de renda, temperamento forte, desapontamentos de alcova». E apenas o comboio larga, toma o seu «grande ar Chambray», e dardeja à dama um desses olhares que eram outrora simbolizados pelas flechas de Cupido. Madame impassível. Mas, momentos depois, vem dentre as pálpebras um pouco pesadas, direito a Chambray (que vigiava de lado, por trás do Fígaro aberto), um desses raios de luz indagadora que, como os da lanterna de Diógenes, procuram