Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/180

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O carregador atirou a jaleca para cima da cabeça, saiu ao largo, e recolheu logo anunciando com melancolia que não havia tipoias.

—Não há! Essa é curiosa! Então como saem daqui os passageiros?

O homem encolheu os ombros. «As vezes havia, outras vezes não havia, era conforme calhava a sorte...» Fiz reluzir uma placa de cinco tostões, e supliquei aquele benemérito que corresse as vizinhanças da estação, à cata dum veículo qualquer com rodas, coche ou carroça, que me levasse ao conchego dum caldo e dum lar. O homem largou, resmungando. E eu logo, como patriota descontente, censurei (voltado para o capataz e para o homem da Alfândega) a irregularidade daquele serviço. Em todas as estações do Mundo, mesmo em Tunes, mesmo na Romênia, havia, à chegada dos comboios, ônibus, carros, carretas, para transportar gente e bagagem... Por que não as havia em Lisboa? Eis aí um abominável serviço que desonrava a Nação!

O aduaneiro esboçou um movimento de desalento, como na plena consciência de que todos os serviços eram abomináveis, e a Pátria toda uma irreparável desordem. Depois, para se consolar, puxou com delicia o lume ao cigarro. Assim se arrastou um destes quartos de hora que fazem rugas na face humana.

Finalmente, o carregador voltou, sacudindo a chuva, afirmando que não havia uma tipoia em todo o bairro de Santa Apolônia.