frades se chamava a comezaina. E a quinta depois, com as suas latadas de sombra macia, a dormente sussurração das águas regantes, os ouros claros e foscos ondulando nos trigais, oferece, mais que nenhum outro paraíso humano ou bíblico, o repouso acertado para quem emerge, pesado e risonho, deste arroz e deste anho!
Se estes meios-dias são um pouco materiais, breve a tarde trará a porção de poesia de que necessita o Espírito. Em todo o Céu se apagou a refulgência de ouro, o esplendor arrogante que se não deixa fitar e quase repele; agora apaziguado e tratável, ele derrama uma doçura, uma pacificação que penetra na alma, a torna também pacífica e doce, e cria esse momento raro em que Céu e alma fraternizam e se entendem. Os arvoredos repousam numa imobilidade de contemplação, que é inteligente. No piar velado e curto dos pássaros, há um recolhimento e consciência de ninho feliz. Em fila, a boiada volta dos pastos, cansada e farta, e vai ainda beberar ao tanque onde o gotejar da água sob a cruz é mais preguiçoso. Toca o sino a Ave-Marias. Em todos os casais se está murmurando o nome de Nosso Senhor. Um carro retardado, pesado de mato, geme pela sombra da azinhaga. E tudo é tão calmo e simples e terno, minha madrinha, que, em qualquer banco de pedra em que me sente, fico enlevado, sentindo a penetrante bondade das coistas, e tão em harmonia com ela, que não há nesta alma, toda incrustada