seu delírio furiosamente imaginava nudezas de cortesãs!... Tudo isto era tratado com uma grandeza sóbria e rude que me parecia sublime J. Teixeira de Azevedo achou também «sublime — mas brejeiro». E concordou que convinha desentulhar Fradique Mendes da obscuridade, e erguê-lo no alto do escudo como o radiante mestre dos Novos.
Fui logo nessa noite à Revolução de Setembro, procurar um companheiro meu de Coimbra, Marcos Vidigal, que, nos nossos alegres tempos de Direito Romano e Canônico, ganhara, por tocar concertina, ler a História da Música de Scudo, e lançar através da Academia os nomes de Mozart e de Beethoven, uma soberba autoridade sobre Música clássica. Agora, vadiando em Lisboa, escrevia na Revolução, aos domingos, uma «Crônica Lírica» — para gozar gratuitamente o bilhete de S. Carlos.
Era um moço com cabelos ralos e cor de manteiga, sardento, apagado de ideias e de modos — mas que despertava e se iluminava todo quando lograva «a chance (como ele dizia) de roçar por um homem célebre, ou de arranchar numa coisa original»; e isto tornara-o a ele, pouco a pouco, quase original e quase célebre. Nessa noite, que era sábado e de pesado calor, lá estava à banca, com uma quinzena de alpaca, suando, bufando, a espremer do seu pobre crânio, como dum limão meio seco, gotas duma Crônica sobre a Volpini. Apenas eu aludi a Fradique Mendes, àqueles versos que me tinham maravilhado — Vidigal arrojou a pena,