Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/231

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beira da fonte, em Savran. Mas eu largamente te amo, e por mim e por ti! A tua beleza, na verdade, atinge a altura de uma virtude:—e foram decerto os modos tão puros da tua alma, que fixaram as linhas tão formosas do teu corpo. Por isso há em mim um incessante desespero de não te saber amar condignamente— ou antes (pois desceste de um céu superior) de não saber tratar, como ela merece, a hóspeda divina do meu coração. Desejaria, por vezes, envolver-te toda numa felicidade imaterial, seráfica, calma infinitamente como deve ser a Bem-aventurança—e assim deslizarmos enlaçados através do silêncio e da luz, muito brandamente , num sonho cheio de certeza, saindo da vida à mesma hora e indo continuar no Além o mesmo sonho extático. E outras vezes desejaria arrebatar-te numa felicidade veemente, tumultuosa, fulgurante, toda de chama, de tal sorte que nela nos destruíssemos sublimemente, e de nós só restasse uma pouca de cinza sem memória e sem nome! Possuo uma velha gravura que é um Satanás ainda em toda a refulgência da beleza arcangélica, arrastando nos braços para o Abismo uma freira, uma Santa, cujos derradeiros véus de penitência se vão esgaçando pelas pontas das rochas negras. E na face da Santa, através do horror, brilha, irreprimida e mais forte que o horror, uma tal alegria e paixão, tão intensas—que eu as apeteceria para ti, oh minha Santa roubada! Mas de nenhum destes modos te sei amar, tão fraco ou inábil