Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/238

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das novidades! Não que desconheça a beleza moral dessa missão, que considera mesmo cheia de poesia. Mas não admite que, formosa e honrosa como é, lhe pertença a ele Padre Salgueiro! outro tanto seria exigir de um verificador da alfândega que moralizasse e purificasse o comércio. Esse santo empreendimento pertence aos Santos. E os Santos, na opinião de Padre Salgueiro, formam uma Casta, uma Aristocracia espiritual, com obrigações sobrenaturais que lhes são delegadas e pagas pelo Céu. Muito diferentes se apresentam as obrigações de um pároco! Funcionário eclesiástico, ele só tem a cumprir funções rituais em nome da Igreja, e portanto do Estado que a subsidia. Há aí uma criança para batizar? Padre Salgueiro toma a estola e batiza. Há aí um cadáver para enterrar? Padre Salgueiro toma o hissope e enterra. No fim do mês recebe os seus dez mil-réis (além da esmola) —e o seu bispo reconhece o seu zelo.

A ideia que Padre Salgueiro tem da sua missão determina, com louvável lógica, a sua conduta. Levanta-se às dez horas, hora classicamente adotada pelos empregados do Estado. Nunca abre o breviário—a não ser em presença dos seus superiores eclesiásticos, e então por deferência jerárquica, como um tenente, que, em face ao seu general, se perfila, pousa a mão na espada. Enquanto a orações, meditações, mortificações, exames de alma, todos esses pacientes métodos de aperfeiçoamento e santificação própria, nem sequer suspeita que lhe sejam necessários