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Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/247

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todas as ações—mesmo as boas. Mesmo as boas, meu Bento! «O nosso generoso amigo Z...» só manda os cem mil-réis à Creche, para que a gazeta exalte os cem mil-réis de Z..., nosso amigo generoso. Nem é mesmo necessário que as sete linhas contenham muito mel e muito incenso: basta que ponham o nome em evidência, bem negro, nessa tinta cujo brilho é mais apetecido que o velho nimbo de ouro do tempo das Santidades. E não há classe que não ande devorada por esta fome mórbida do reclamo. Ela é tão roedora nos seres de exterioridade e de mundanidade, como naqueles que só pareciam amar na vida, como a sua forma melhor, a quietação e o silêncio... Entramos na quaresma (é entre as cinzas, e com cinzas, que te estou moralizando). Agora, nestas semanas de peixe, surdem os frades dominicanos, do fundo dos seus claustros, a pregar nos púlpitos de Paris. E por quê esses sermões sensacionais, de uma arte profana e teatral, com exibições de psicologia amorosa, com afetações de anarquismo evangélico, e tão criadores de escândalo que Paris corre mais gulosamente a Notre-Dame em tarde de Dominicano, do que à Comédia Francesa em noite de Coquelin? Porque os monges, filhos de S. Domingos, querem setenta linhas nos jornais do Boulevard, e toda a celebridade dos histriões. O jornal estende sobre o mundo as suas duas folhas, salpicadas de preto, como aquelas duas asas com que os iconografistas do século VX representavam a Luxúria ou a Gula: e o Mundo todo se arremessa para o jornal,