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Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/41

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prosador. Boileau continuaria a ser um clássico e um imortal, quando já ninguém se lembrasse em França do tumultuoso lirismo de Hugo...

Dizia estas coisas enormes numa voz lenta, penetrante — que ia recortando os termos com a certeza e a perfeição dum buril. E eu escutava, varado! Que um Boileau, um pedagogo, um lambão de corte, permanecesse nos cimos da Poesia Francesa, com a sua Ode à Tomada de Namur, a sua cabeleira e a sua férula, quando o nome do poeta da Lenda dos Séculos fosse como um suspiro do vento que passou — parecia-me uma dessas afirmações, de rebuscada originalidade, com que se procura assombrar os simples, e que eu mentalmente classificava de insolente. Tinha mil coisas, abundantes e esmagadoras, a contestar: mas não ousava, por não poder apresentá-las naquela forma translúcida e geométrica do poeta das LAPIDÁRIAS. Essa cobardia, porém, e o esforço para reter os protestos do meu entusiasmo pelos Mestres da minha mocidade, sufocava-me, enchia-me de mal-estar: e ansiava só por abalar daquela sala, onde, com tão bolorentas opiniões clássicas, tanta rosa nas jarras e todas as moles exalações de canela e manjerona-se respirava conjuntamente um ar abafadiço de Serralho e de Academia.

Ao mesmo tempo julgava humilhante ter soltado apenas, naquela conversação com o familiar de Mazzini e de Hugo, miúdos reparos sobre o Pedro Penedo