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Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/47

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preta e um colete branco fechado por botões de coral. E o laço da gravata de cetim negro representava bem, naquela terra de roupagens soltas e rutilantes, a precisão formalista das ideias ocidentais.

Perguntou-me pela pachorrenta Lisboa, por Vidigal que burocratizava entre os palmares bramânicos... Depois, como eu continuava a esfregar o suor e o pó, aconselhou que me purificasse num banho turco, na piscina que fica ao pé da Mesquita de El-Monyed, e que repousasse toda a tarde, para percorrermos à noite as iluminações do Beiram.

Mas em lugar de descansar, depois do banho lustral, tentei ainda, ao trote doce de um burro, através da poeira quente do deserto líbico, visitar fora do Cairo as sepulturas dos Califas. Quando à noite, na sala do Sheperd, me sentei diante da sopa de «rabo de boi», a fadiga tirara-me o ânimo de pasmar para outras maravilhas muçulmanas. O que me apetecia era o leito fresco, no meu quarto forrado de esteiras, onde tão romanticamente se ouviam cantar no jardim as fontes entre os rosais.

Fradique Mendes já estava jantando, numa mesa onde flamejava, entre as luzes, um ramo enorme de cactos. Ao seu lado pousava de leve, sobre um escabelo mourisco, uma senhora vestida de branco, a quem eu só via a massa esplêndida dos cabelos louros, e as costas, perfeitas e graciosas, como as de uma estátua de Praxíteles que usasse um colete de Madame Marcel; defronte, numa cadeira de braços,