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Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/49

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Deuses, e aquele amigo de Fradique que se parecia com Júpiter. Os Deuses (cismava eu, colhendo garfadas lentas da salada de tomates) não tinham talvez morrido; e desde a chegada de S. Paulo à Grécia, viviam refugiados num vale da Lacônia, outra vez entregues, nos ócios que lhes impusera o Deus novo, às suas ocupações primordiais de lavradores e pastores. Somente, já pelo hábito que os Deuses nunca perderam de imitar os homens, já para escapar aos ultrajes duma Cristandade pudibunda, os olímpicos abafavam, sob saias e jaquetões, o esplendor das nudezas que a Antiguidade adorara; e como tomavam outros costumes humanos, ora por necessidade (cada dia se torna mais difícil ser Deus), ora por curiosidade (cada dia se torna mais divertido ser Homem), os Deuses iam lentamente consumando a sua humanização. Já por vezes deixavam a doçura do seu vale bucólico; e com baús, com sacos de tapete, viajavam por distração ou negócios, folheando os Guias Bedecker. Uns iam estudar nas cidades, entre a Civilização, as maravilhas da Imprensa, do Parlamentarismo e do gás; outros, aconselhados pelo erudito Hermes, cortavam a monotonia dos longos estios da Ática, bebendo as águas em Vichy ou em Carlsbad; outros ainda, na saudade imperecível das onipotências passadas, peregrinavam até às ruínas dos templos, onde outrora lhes era ofertado o mel e o sangue das reses. Assim se tornava verosímil que aquele homem, cuja face cheia de majestade e força