o prendiam os seus gostos e os seus hábitos—mundo mediano e regrado, sem invenção e sem iniciativa intelectual, onde as Ideias, para agradar, devem ser como as Maneiras, «geralmente adotadas» e não individualmente criadas— Fradique, com a sua indócil e brusca liberdade de Juízos, afrontava o perigo de passar por um petulante rebuscador de originalidade, ávido de gloriola e de excessivo destaque. Um espírito inventivo e novo, com uma força de pensar muito própria, deixando transbordar a vida abundante e múltipla que o anima e enche —é mais desagradável a esse mundo do que o homem, rudemente natural, que não regre e limite dentro das «Conveniências» a espessura da cabeleira, o estridor das risadas, e o franco mover dos membros grossos. Desse espírito indisciplinado e criador, logo se murmura com desconfiança: «Pretensioso! busca o efeito e o destaque!» Ora Fradique nada detestava mais intensamente do que o efeito e o destaque excessivo. Nunca Lhe conheci senão gravatas escuras. E tudo preferiria a ser apontado como um desses homens, que, sem ódio sincero a Diana e ao seu culto e só para que deles se fale com espanto nas praças, vão, em plena festa, agitando um grande facho, incendiar-lhe o templo em Éfeso. Tudo preferiria—menos (como ele diz numa carta a Madame de Jouarre) «ter de vestir a Verdade nos armazéns do Louvre, para poder entrar com ela em casa de Ana de Varle, duquesa de Varle e de Orgemont. A entrar hei
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