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de toda especie, alardeando o seo afastamento e desdem pelos prazeres da sociedade e frivolidades da vida.

Entre elles acha-se um, sobre o qual nos é mister deter por mais um pouco a attenção, visto que tem de tomar parte um tanto activa nos acontecimentos desta historia. Este nada tem de spleenitico nem de byroniano; pelo contrario o seo todo respira o mais chato e ignobil prosaismo. Mostra ser mais velho que os seos comparsas, uma boa dezena de anos. Tem cabeça grande, cara larga, e feições grosseiras. A testa é desmesuradamente ampla, e estofada de enormes protuberancias, o que, na opinião de Lavater, é indicio de espirito lerdo e acanhado, a roçar pela estupidez. O todo da physionomia tosca e quase grotesca revéla instinctos ignobeis, muito egoismo e baixeza de caracter. O que porém mais o caracteriza é certo espirito de cobiça, e de sordida ganancia, que lhe transpira em todas as palavras, em todos os actos, e principalmente no fundo de seos olhos pardos e pequeninos, onde reluz constantemente um raio de velhacaria. E’ estudante, mas pelo desalinho do trajo, sem o menor esmero e nem sombra de elegancia, parece mais um vendilhão. Estudava ha quinze anos á sua propria custa, mantendo-se do rendimento de uma taverna, de que era socio capitalista. Chama-se Martinho.

— Rapaziada, — disse um dos mancebos, —