Página:A escrava Isaura (1875).djvu/20

Wikisource, a biblioteca livre
10
A ESCRAVA ISAURA

lisão toda analyse. A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não saberieis dizer se é leve palidez ou cor de rosa desmaiada. O collo donoso e do mais puro lavor sustenta com graça ineffavel o busto maravilhoso. Os cabellos soltos e fortemente ondulados se despenhão caracolando pelos hombros em espessos e luzidios rolos, e como franjas negras escondião quasi completamente o dorso da cadeira, a que se achava recostada. Na fronte calma e lisa como marmore polido, a luz do occaso esbatia um roseo e suave reflexo; dil-a-hieis mysteriosa lampada de alabastro guardando no seio diaphano o fogo celeste da inspiração. Tinha a face voltada para as janellas, e o olhar vago pairava-lhe pelo espaço.

Os encantos da gentil cantora erão ainda realçados pela singeleza, e diremos quasi pobreza do modesto trajar. Um vestido de chita ordinaria azul-clara desenhava-lhe perfeitamente com encantadora simplicidade o porte esbelto e a cintura delicada, e desdobrando-se-lhe em roda em amplas ondulações parecia uma nuvem, do seio da qual se erguia a cantora como Venus nascendo da espuma do mar, ou como um anjo surgindo d’entre brumas vaporosas. Uma pequena cruz de azeviche presa ao pescoço por uma fita preta constituia o seu unico ornamento.

Apenas terminado o canto, a moça ficou um