Página:A escrava Isaura (1875).djvu/202

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humanitario, quando se trata de proteger a innocencia desvalida contra a prepotencia, de amparar o infortunio contra uma injusta perseguição, então ou são mudas, ou são crueis.

Mas não obstante ellas hei-de empregar todos os esforços ao meo alcance para libertar a infeliz do affrontoso jugo que a opprime. Para tal empreza alenta-me não já sómente um impulso de generosidade, como tambem o mais puro e ardente amor, sem pejo o confesso.

O amigo de Alvaro arripiou-se com esta deliberação tão franca e enthusiasticamente proclamada com essa linguagem tão exaltada, que lhe pareceo um deploravel desvario da imaginação.

— Nunca pensei, — replicou com gravidade, — que a tal ponto chegasse a exaltação desse teo excentrico e malfadado amor. Que por um impulso de humanidade procures proteger uma escrava desvalida, nada mais digno e mais natural. O mais não passa de delirio de uma imaginação exaltada e romanesca. Será airoso e digno da posição que occupas na sociedade, deixares-te dominar de uma paixão violenta por uma escrava?...

— Escrava! — exclamou Alvaro cada vez mais exaltado, — isso não passa de um nome vão, que nada exprime, ou exprime uma mentira. Pureza de anjo, formosura de fada, eis a realidade! Pode um homem ou a sociedade inteira contrariar as