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A ESCRAVA ISAURA
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da côrte, muito folgou de encontrar tão boa e amavel companhia na solidão, que ia habitar.

— Por que razão não libertão esta menina? — dizia ella um dia á sua sogra. — Uma tão boa e interessante creatura não nasceo para ser escrava.

— Tem razão, minha filha, — respondeo bondosamente a velha; — mas que quer você?... não tenho animo de soltar este passarinho, que o céo me deo para me consolar e tornar mais supportaveis as pesadas e compridas horas da velhice.

E tambem libertal-a para que? Ella aqui é livre, mais livre do que eu mesma, coitada de mim, que já não tenho gostos na vida nem forças para gozar da liberdade. Quer que eu solte a minha patativa? e se ella transviar-se por ahi, e nunca mais acertar com a porta da gaiola?... Não, não, minha filha; emquanto eu for viva, quero têl-a sempre bem pertinho de mim, quero que seja minha, e minha só. Você ha-de estar dizendo lá comsigo — forte egoismo de velha! — mas tambem eu já poucos dias terei de vida; o sacrificio não será grande. Por minha morte ficará livre, e eu terei o cuidado de deixar-lhe um bom legado.

De feito a boa velha tentou por diversas vezes escrever seo testamento a fim de garantir o futuro de sua escravinha, de sua querida pupilla; mas o commendador, auxiliado por seo filho com delongas e futeis pretextos, conseguia ir sempre adiando a satisfação do louvavel e santo desejo de sua