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A ESCRAVA ISAURA

dar-lhe uma primorosa educação, não foi de certo para abandonal-a ao mundo, não achas?... Tambem meo pae parece, que cedeo ás instancias do pae della, que é um pobre gallego, que por ahi anda, e que pretende libertal-a; mas o velho pede por ella tão exorbitante somma, que julgo nada dever recear por esse lado. Vê lá, Henrique, se ha nada que pague uma escrava assim?...

— E’ com effeito encantadora; replicou o moço, — se estivesse no serralho do sultão, seria sua odalisca favorita. Mas devo notar-te, Leoncio, — continuou, cravando no cunhado um olhar cheio de maliciosa penetração, — como teo amigo e como irmão de tua mulher, que o teres em tua sala e ao lado de minha irmã uma escrava tão linda e tão bem tratada não deixa de ser inconveniente e talvez perigoso para a tranquillidade domestica...

— Bravo! — atalhou Leoncio galhofando, para a idade que tens, já estás un moralista de polpa!... mas não te dê isso cuidado, meo menino; tua irmã não tem dessas velleidades, e é ella mesma quem mais gosta de que Isaura seja vista e admirada por todos. E tem razão; Isaura é como um traste de luxo, que deve estar sempre exposto no salão. Querias, que eu mandasse para a cosinha os meos espelhos de Veneza?...

Malvina, que vinha do interior da casa, risonha, fresca e alegre como uma manhã de abril, veio interromper-lhes a conversação.