e não se atrevia a voltar a cabeça, para não esbarrar com ele, ali mesmo, junto aos seus calcanhares.
Os pés, habituados ao caminho, levaram-na direita ao fim; uma rajada assobiando pelas frinchas de uma porta, tê-la reconhecer o quarto, de que deixara aberta a janela, e ela entrou arrebatada, forçando a porta, que resistia. Fechou-se logo à chave, colou o ouvido à fechadura. Ninguém; suspirou de alívio, estava só.
Um relâmpago conduziu-a à janela, de que fechou os vidros, alagando-se toda. Despiu-se à pressa, às escuras, deixando cair toda a roupa molhada no chão.
E foi à luz branca de um outro relâmpago que ela se viu toda nua, muito pálida, no grande espelho do guarda-vestidos. Escondeu o rosto de repente, como se vira um fantasma, e saltou para a cama, enfiando a camisa de dormir, num movimento de louca, com medo da noite, com medo da sua própria imagem, que se lhe afigurava impressa para todo o sempre no vidro.