vez mais curiosa, punha a vista sôfrega nas mãos do pintor, tão grandes e tão leves, e nas tintas da paleta, que se desmanchavam noutras, tintas mais suaves ou em flechas de sol.
Tão embevecida ficou, que, meia hora depois, quando o dr. Gervásio entrou e lhe bateu no ombro, ela respondeu, sem desviar a vista da parede:
— Estou gostando de ver...
"A quem diabo teria saído esta pequena?!" pensou consigo o médico, ao mesmo tempo que examinava com vista curiosa o trabalho do pintor. E não lhe agradou completamente o trabalho; torceu os lábios, descontente.
Mais tarde, quando Ruth lhe pediu a significação daquele gesto, ele respondeu:
— Não tive talvez razão; a minha exigência torna-me incontentável e injusto. Eu já sabia que o artista não é genial; portanto, não podia esperar dele uma obra perfeita. Que importa que um dos anjos tenha uma perna mais comprida que a outra, e todos tenham o mesmo nariz? Não digamos isso aos outros, que os outros nada verão. A cor é bonita, o efeito é gracioso, basta. Já é uma felicidade haver alguma coisa..
— Eu, como não entendo acho bonito.