filharada debandara depois do almoço, uns para o emprego, outras para o dentista e as compras. Mas no fundo das caçarolas ainda havia restos de arroz e de ensopado; D. Elisa recomendou que estralassem uns ovos, e em poucos minutos D. Joana e Ruth almoçavam, ao som de um discurso do dr. Maia, que ia descrevendo com surpreendente entusiasmo o seu invento de um balão dirigível.
Ele não pensava em outra coisa; vivia em perpétuo vôo, entre altas camadas de atmosfera. Desde alguns anos se fixara nesses estudos e para eles fazia convergir todos os seus cuidados.
A mulher sorria-se com resignação imposta pelos mil desvarios que se acostumara a conhecer no esposo. Desde rapaz que ele fora assim, metido a empresas opostas à sua competência. Tinha estudado para médico, e abandonara a clínica para defender réus desamparados, escrever para jornais e desperdiçar forças e tempo na elaboração de grandes empreendimentos que não levava a termo. Agora era o balão.
Aquele velho de quase oitenta anos, achacado de asma, perdia horas de sono, curvado sobre a mesa, a desenhar, a escrever, a dar forma à sua idéia, em uma palpitação assombrosa de vida...