Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/233

Wikisource, a biblioteca livre

esse amor, que ela julgava convertido em ódio, já tinha lançado em sua alma profundas raízes, e era como uma planta vivaz, a que um sopro ardente apenas tinha emurchecido as ramas, e que só esperava um raio benigno do sol e um bafejo da primavera para de novo reverdecer com mais viço e vigor ainda.

Regina, levada de furor e sede de vingança, se havia recolhido à solitária e inacessível ilha, em que sepultara o marido, e em que havia proferido e cumprido pontualmente até a véspera os tremendos juramentos que sabemos.

A primeira fase de sua vida foi de altiva independência e glacial isenção. A segunda, muito breve, foi de ternura e paixão. A terceira devia ser de furor e vingança.

Ninguém pudera saber o fim sinistro que tinha levado ela e seu esposo na fatal noite das núpcias. A maré tinha lavado o sangue da praia, e Regina, levando consigo o cadáver do esposo, tinha apagado os únicos vestígios do execrável atentado. Exilada naquela solidão inacessível, rodeada de ondas tormentosas, ali se conservou longo tempo, como aranha astuta urdindo a teia traiçoeira, espreitando o ensejo de realizar seus nefandos projetos de vingança.

Os pescadores, que ousavam avizinhar-se do rochedo maldito, viam lá as formas céreas dessa