Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/304

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impenetrável, e a despeito disso aqueles selvagens, afeitos às trevas, pareciam enxergar, pois moviam-se com toda a presteza sem se abalroarem, e faziam tudo com todo o desembaraço, como se estivessem à luz do meio dia. Inimigos da luz não faziam fogo, e o clima tépido daquelas regiões os dispensava de se aquecerem.

Gaspar pensava ter caído vivo no inferno, e sua pavorosa situação ainda mais cruel se tornava pela lembrança do rico e delicioso vale, que tinha ali tão perto de si, e que ainda a pouco acabava de atravessar com o coração a transbordar de esperanças e o espírito cheio dos mais brilhantes projetos. Atravessar o paraíso para cair de chofre naquele inferno de eterna escuridão! Oh! que era um transe de pungir, de ralar o coração!

Gaspar foi atirado no chão, amarrado como estava como um porco que se vai sangrar. Pelo tropel e vozeria dos selvagens compreendeu que a furna se dilatava interiormente em um vasto subterrâneo, cuja atmosfera pesada e quente estava carregada de miasmas infectos e nauseabundos. Posto que transido de horror sua curiosidade era grande e, ao menos para disfarçar sua angústia, desejava conhecer aquele inferno, onde a sorte o precipitava por modo tão estranho e desapiedado. Esperava que ascendessem algum lume;