não sentindo mais o prestígio daquela beleza fascinadora, daquela voz e maneiras adoráveis, recordando os sinistros mistérios e estranhas tradições que envolviam a existência de Regina, voltavam-lhes ao espírito todas as antigas cismas e prevenções.
— Forte pena! — exclamavam então. — Uma tão linda menina, com tantas prendas e tão boas maneiras, e ter no corpo o espírito maléfico…!
— Mas ela é batizada — ponderava um ou outro —, foi a tia Felisbina que lhe serviu de madrinha e pôs-lhe na mão a vela benta. Talvez algum padre santo possa com esconjuros e orações tirar-lhe do corpo o espírito mau.
— Não creiam nisso — respondiam as velhas experientes —, o batismo não pode tirar o diabo do corpo de quem já nasceu com ele herdado de seus pais. As sereias não são criaturas de Deus; nem são geradas e nascidas como nós; nascem no mar por artifícios de Lúcifer, que lhes dá a figura de formosas donzelas e manda um demônio habitar no corpo delas para tentar e afligir a humanidade.
— Cruz…! Abrenuncio! — repetiam todos. — Deus nos defenda de semelhante praga…!