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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Gonçalo Mendes Ramires, que findára apressadamente a sopa e enchia um copo de vinho verde para se calmar, fitou o lavrador, quasi severamente:

— Homem, essa pergunta!... Pois se eu tivesse confirmado ao Casco decisivamente a palavra de Gonçalo Ramires, estava agora aqui a tratar, ou sequer a conversar comsigo, Pereira, sobre o arrendamento da Torre?

O Pereira baixou a cabeça. Tambem era verdade!... Pois, n’esse caso, elle abria a sua tenção, claramente. E, como conhecia a propriedade, e apurára o seu calculo — offerecia ao Fidalgo um conto cento e cincoenta mil réis, sem porco. Mas não dava para a familia nem leite, nem hortaliça, nem fructa. O Fidalgo, homem só, pouco se aproveitava. A Torre, porém, casa antiga, enxameava de gentes e d’adherentes. Todos apanhavam, todos abusavam... Emfim, esse era o seu principio. E de resto, para a meza do Fidalgo e mesmo dos creados, bastava o pomar e a horta de regalo... Que horta e pomar necessitavam trato mais geitoso: mas elle, por amor do Fidalgo, e gosto seu, por lá passaria e tudo luziria... Emquanto ás outras condições, acceitava as do antigo arrendamento. E escriptura assignada para a outra semana, no sabbado... Estava feito?

Gonçalo, depois de um momento em que pestanejou