carruagem — uma caleche forrada d’azul, com a parelha coberta de rêdes brancas contra a môsca, e na almofada, têzo, um cocheiro de bigode, farda de golla escarlate e chapéo de tópe amarello. E Gonçalo mantinha ainda a egua pelo freio, como arrieiro serviçal em trilho perigoso — quando avistou, sentado n’um dos bancos de pedra, junto da Bica, com um chale-manta por cima dos joelhos, o velho Sanches Lucena. Ao lado o trintanario, agachado, esfregava com um mólho d’herva a botina que a bella D. Anna lhe estendia, apanhando o vestido de linho crú, apoiando a outra mão, sem luva, na cinta vergada e fina.
A desconcertada apparição do Fidalgo da Torre, puxando pela rédea a sua egua onde se escarranchava regaladamente um cavador em mangas de camisa, alvorotou aquelle repousado e dormente recanto da Bica. Sanches Lucena esbugalhava os olhos, esbugalhava os oculos, n’um arremesso de curiosidade que o levantára, com o pescoço esticado, o chale-manta escorregado para a relva. D. Anna recolheu bruscamente a botina, logo empertigada, na gravidade condigna da senhora da Feitosa, retomando como uma insignia o cabo d’ouro da luneta d’ouro, suspensa por um cordão d’ouro. E até o trintanario ria pasmadamente para o Sôlha.
Mas já, com o seu desembaraço elegante, Gonçalo,