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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Rindo, sobretudo para D. Anna, cujos olhos formosamente negros, d’uma funda refulgencia liquida, tambem esperavam, serios e reservados, Gonçalo contou o desastre do bom homem, que encontrára no caminho gemendo, arrastando a perna escalavrada...

— De sorte que lhe offereci a minha egua... E até, se V. Ex. ame permitte, minha senhora, é necessario que eu combine com elle o resto da jornada...

Rapidamente, voltou ao Sôlha, que, de novo acanhado ante os senhores da Feitosa, com o chapeu na mão, encolhido sobre o sellim, como attenuando a sua grandeza, logo se desestribou para desmontar. Mas já Gonçalo lhe ordenava que trotasse para a Finta — e lhe mandasse a egua por um dos seus rapazes, alli á Bica-Santa, onde elle se demorava com o Snr. Conselheiro. E quando o Sôlha largou, saudando desabaladamente, torcido, como impellido a seu pezar pelos acenos risonhos com que o Fidalgo o despedia, o assombro do Sanches Lucena recomeçou:

— Ora uma cousa d’estas! Eu tudo esperaria, tudo, menos o Sr. Gonçalo Mendes Ramires a trazer á rédea, pela estrada de Corinde, um cavador d’enxada! É a repetição do Bom Samaritano... Mas para melhor!

Gonçalo gracejou, sentado no banco, junto de Sanches Lucena. — Oh! o Bom Samaritano não merecera