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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

E ella, certamente, rendera tambem o coração áquelle moço resplandecente e côr d’ouro, que, n’essa tarde de festa, arremessando o rojão contra os toiros, ganhára duas fachas bordadas pela nobre Dona de Lanhoso — e á noite, no sarau, se requebrára com tão repicado garbo na dança dos Marchatins... Mas Lopo era bastardo, d’essa raça de Bayão, inimiga dos Ramires por velhissimas brigas de terras e precedencias desde o conde D. Henrique — ainda assanhadas depois, durante as contendas de D. Tareja e de Affonso Henriques, quando na curia dos Barões, em Guimarães, Mendo de Bayão, bandeado com o Conde de Trava, e Ramires o Cortador, collaço do moço Infante, se arrojaram ás faces os guantes ferrados. E, fiel ao odio secular, Tructesindo Ramires recusára com áspera arrogancia a mão de Violante ao mais velho dos de Bayão, um dos valentes de Silves, que pelo Natal, na Alcaçova de S. taIreneia, lh’a pedira para Lopo, seu sobrinho, o Claro-Sol, offerecendo avenças quasi submissas d’alliança e doce paz. Este ultraje revoltára o solar de Bayão — que se honrava em Lopo, apezar de bastardo, pelo lustre da sua bravura e graça galante. E então Lopo ferido doridamente no seu coração, mais furiosamente no seu orgulho, para fartar o esfaimado desejo, para infamar o claro nome dos Ramires — tentou raptar D. Violante. Era na primavera, com todas as veigas do