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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

E endireitava para o pinhal, com as pernas molles, um suor arripiado na espinha — quando o Casco, n’um rodeio, n’um salto leve, atrevidamente se lhe plantou diante, atravessando o cajado:

— O Fidalgo ha-de dizer aqui mesmo! O Fidalgo deu a sua palavra!... A mim não se me fazem d’essas desfeitas... O Fidalgo deu a sua palavra!

Gonçalo relanceou esgaseadamente em redor, na ancia d’um soccorro. Só o cercava solidão, arvoredo cerrado. Na estrada, apenas clara sob um resto de tarde, o carro de lenha, ao longe, chiava, mais vago. As ramas altas dos pinheiros gemiam com um gemer dormente e remoto. Entre os troncos já se adensava sombra e nevoa. Então, estarrecido, Gonçalo tentou um refúgio na ideia de Justiça e de Lei, que aterra os homens do campo. E como amigo que aconselha um amigo, com brandura, os beiços resequidos e tremulos:

— Escute, Casco, escute, homem! As coisas não se arranjam assim, a gritar. Póde haver desgosto, apparecer o regedor. Depois é o tribunal, é a cadeia. E você tem mulher, tem filhos pequenos... Escute! Se descobriu motivo para se queixar, vá á Torre, conversamos. Pacatamente tudo se esclarece, homem... Com berros, não! Vem o cabo, vem a enxovia...

Então de repente o Casco cresceu todo, no solitario