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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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soffregamente á sua Idéa, e supplicou a Gonçalo Mendes Ramires que lhe cedesse para os Annaes esse Romance que elle annunciára em Coimbra, sobre o seu avoengo Tructesindo Ramires, Alferes-mór de Sancho I.

Gonçalo, rindo, confessou que ainda não começára essa grande obra!

— Ah! murmurou o Castanheiro, estacando, com os negros oculos sobre elle, duros e desconsolados. Então você não persistio?... Não permaneceu fiel á Idéa?...

Encolheu os hombros, resignadamente, já acostumado, atravez da sua missão, a estes desfallecimentos do Patriotismo. Nem consentio que Gonçalo, humilhado perante aquella Fé que se mantivera tão pura e servidôra — alludisse, como desculpa, ao inventario laborioso da Casa, depois da morte do papá...

— Bem, bem! Acabou! Proscratinare luzitanum est. Trabalha agora no verão... Para Portuguezes, menino, o verão é o tempo das bellas fortunas e dos rijos feitos. No verão nasce Nun’Alvares no Bomjardim! No verão se vence em Aljubarrota! No verão chega o Gama á India!... E no verão vae o nosso Gonçalo escrever uma novellasinha sublime!... De resto os Annaes só apparecem em Dezembro, caracteristicamente no Primeiro de Dezembro. E você em tres mezes resuscita um mundo. Serio, Gonçalo Mendes!...