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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

porque acabo de receber telegramma do nosso André, annunciando que « tudo feito, ministro concorda, etc.» De sorte que precisamos communicar! Queira pois vossa mercê vir jantar ámanhã a esta sua Torre, á sombra do Titó e com acompanhamento de Videirinha. Estes dous benemeritos são indispensaveis para que haja appetite e harmonia. E rogo, Gouveia amigo, que os avise do festim, para me evitar a remessa de circulares eloquentes...»

Lacrada a carta, retomou languidamente o manuscripto da Novella. E, trincando a rama da penna, ainda procurou vozes, de bom sabor medieval, para aquelle lance em que o Villico e as roldas enxergavam a cavalgada do Bastardo, pela encosta da Ribeira, com refulgidos d’armas, sob o rijo sol d’Agosto...

Mas a sua imaginação, desde a carta escripta ao Gouveia pelo «Deputado de Villa-Clara» escapava desassocegadamente da velha Honra de Santa Ireneia — esvoaçava teimosamente para os lados de Lisboa, da Lisboa do S. Fulgencio. E o eirado da torre albarran, onde o gordo Ordonho gritava esbaforido — incessantemente se desfazia como nevoa molle, para sobre elle surgir, appetitoso e mais interessante, um quarto do Hotel Bragança com varanda sobre o Tejo... Foi um allivio quando o Bento o apressou para a ceia. E á mesa espalhou livremente a imaginação