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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

a arca e o catre. Immediatamente appareceu um lavrador dos Bravaes, o José Casco, respeitado em toda a freguezia pela sua seriedade e força espantosa, propondo ao fidalgo arrendar a Torre. Gonçalo Mendes Ramires porém, já desde a morte do pae, decidira elevar a renda a novecentos e cincoenta mil réis: — e o Casco desceu as escadas, de cabeça descahida. Voltou logo ao outro dia, repercorreu miudamente toda a quinta, esfarellou a terra entre os dedos, esquadrinhou o curral e a adega, contou as oliveiras e as cêpas: e n’um esforço, em que lhe arfaram todas as costellas, offereceu novecentos e dez mil réis! Gonçalo não cedia, certo da sua equidade. O José Casco voltou ainda com a mulher; depois, n’um domingo, com a mulher e um compadre, — e era um coçar lento do queixo rapado, umas voltas desconfiadas em torno da eira e da horta, umas demoras sumidas dentro da tulha, que tornavam aquella manhã de Junho intoleravelmente longa ao Fidalgo, sentado n’um banco de pedra do jardim, debaixo d’uma mimosa, com a Gazeta do Porto. Quando o Casco, pallido, lhe veio offerecer novecentos e trinta mil réis — Gonçalo Mendes Ramires arremessou o jornal, declarou que ia elle, por sua conta, amanhar a propriedade, mostrar o que era um torrão rico, tratado pelo saber moderno, com phosphatos, com machinas! O homem de Bravaes,