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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

preguiçar, ninguem mais os enxerga. E, para concebermos uma ideia das cousas do céo, só temos realmente as creancinhas... Sim, com effeito, prima, gosto muito de creanças. Mas tambem gosto de flôres, e não sou jardineiro, nem tenho geito para a jardinagem.

E D. Maria com uma faisca no olhar promettedor:

— Socegue, que ainda vem a aprender!

Depois, para D. Anna que se esquecera na contemplação do relogio:

— Achas que vão sendo horas? Então, se queres, entramos na Capella... Oh primo, veja se está aberta.

Gonçalo correu, empurrou a porta da Capella. Depois acompanhou as duas senhoras pela pequenina nave soalhada, entre delgados pilares recobertos de uma cal aspera e crua — que recamava tambem as paredes lisas, apenas guarnecidas, na sua rigida nudez, por lithographias de Santos dentro de caixilhos de pinho. Deante do altar as senhoras ajoelharam — a prima Maria enterrando a face nas mãos juntas como n’um vaso de Piedade. Gonçalo dobrou o joelho de leve, engrolou uma Ave-Maria.

Depois voltou para o adro, accendeu um cigarro. E, pisando lentamente a relva, considerava quanto a viuvez melhorára D. Anna. Sob o negrume do luto, como n’uma penumbra que esfuma a grosseira deselegancia