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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Por fim, descorçoado, arrojou a penna que tão desastrosamente emperrára. E fechando na gavêta, com uma pancada, o volume precioso do Bardo:

— Irra! Estou perfeitamente entupido! É este calor! E depois aquelle animal do Casco, toda a manhã!...

Ainda releu, coçando sombriamente a nuca, a derradeira linha rabiscada e suja:

— «...Na sala altaneira e larga, onde os largos e pallidos raios da lua...» Larga, largos!... E os pallidos raios, os eternos pallidos raios!... Tambem este maldito castello, tão complicado!... E este D. Tructesindo, que eu não apanho, tão antigo!... Emfim, um horror!

Atirou, n’um repellão, a cadeira de couro; cravou, com furor, um charuto nos dentes; — e abalou da livraria, batendo desesperadamente a porta, n’um tedio immenso da sua obra, d’aquelles confusos e enredados Paços de Santa Ireneia, e dos seus avós, enormes, resoantes, chapeados de ferro, e mais vagos que fumos.