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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

de malha acairellada d’ouro, Lopo de Bayão despegou do denso troço de cavalleiros, com a viseira erguida, sem lança ou ascuma de monte, e ociosas sobre o arção da sella mourisca as mãos onde se enrodilhavam as bridas de couro escarlate. Depois, a um toque arrastado de buzina, avançou para as barbacans da Honra, vagarosamente, como se acompanhasse um sahimento. Não movera o seu pendão amarello e negro. Apenas seis infanções o escoltavam, tambem sem lança ou broquel, com sobrevestes de panno rôxo sobre os saios de malha. Atraz quatro alentados besteiros carregavam aos hombros umas andas, toscamente armadas com troncos de arvores, onde um homem jazia estirado, como morto, coberto, contra o calor e os moscardos, por leves folhagens de acacia. E um monge seguia n’uma mula branca, segurando misturadamente com as rédeas um crucifixo de ferro, sobre que pendia a orla do seu capuz e uma ponta de barba negra.

Da setteira, mesmo sem descortinar por entre a camada de ramagens a face do homem estendido nas andas, o Sabedoradivinhou Lourenço Ramires, o doce afilhado que tanto amára, que tão bem ensinára a terçar lanças e a treinar falcões. E cerrando os punhos, gritando surdamente — «Bem prestos! bésteiros, bem prestos!» — desceu a escura escadaria, tão arremessado pela colera e pela magoa que