Página:A illustre Casa de Ramires (1900).djvu/385

Wikisource, a biblioteca livre
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
377

estranhamente se apoderára d’elle uma repugnancia quasi pudica em communicar com os Cunhaes! Era como se esse Mirante e a torpeza abrigada dentro das suas paredes côr de rosa empestassem o jardim, o palacete, o Largo d’El-Rei, toda a cidade d’Oliveira, e elle agora, por aceio moral, recuasse ante essa região empestada onde o seu coração e o seu orgulho suffocavam... Logo depois da sua fuga recebera do bom Barrôlo uma carta espantada: — «Que têlha foi essa? Porque não esperaste? Eu, quando voltei á noite da quinta do Marges, até fiquei com cuidado. E não imaginas como a Gracinha anda nervosa! Soubemos da partida, por acaso, por um cocheiro do Maciel. Já hoje comemos os pêcegos, mas não comprehendemos!...» — Gonçalo respondeu seccamente n’um bilhete: — «Negocios». Depois recordou que deixára na gaveta do seu quarto o manuscripto da Novella: e mandou um moço da quinta, de madrugada, com um recado quasi secreto ao Padre Sueiro, «para que entregasse a pasta ao portador, bem embrulhada, sem contar aos senhores...» Entre a Torre e os Cunhaes só desejava separação e silencio.

E nos encerrados dias que passou na Torre (sem se arriscar a Villa-Clara, no terror de que a vergonha do seu nome já andasse rosnada pelo estanco do Simões ou pelo armazem do Ramos) não cessou de vibrar n’uma colera espalhada que a todos